Já imaginou se quisessem comer o gorducho e sorridente Totoro? Ou se Chihiro ignorasse que aqueles porcos eram seus pais e decidisse cozinhá-los? Pensar nisso não parece apenas errado, mas também é bizarro e se trata da premissa do novo filme original da Netflix, Okja. Assim como nos filmes de Hayao Myiazaki, nessa produção de Bong Joon-Ho aprendemos a amar e nos importar com um grande e intrigante monstro e então, quando tudo parece bem, tiram ele dos braços do público e da sua pequena dona, Mikha.

Mas a crítica à indústria alimentícia começa bem antes disso, quando Lucy Mirando, intepretada por Tilda Swinton, começa seu discurso que de sustentável tem apenas o oxigênio que sai de seus pulmões. Lucy comenta sobre os erros do pai e diz que essa é uma nova era ao apresentar o seu “super porco”, mas não deixa de lado o principal propósito desse grande show chamado marketing: “Ele tem que ser gostoso”.

É então que pulamos de 2007 para 2017 e novamente o diretor, Joon-Ho, mostra que sabe como escrever uma história e dar foco e importância para cada um dos personagens. Desde Gleen de The Walking Dead (Steven Yeun) até o avô da garotinha (Byun Hee-Bong), todas fazem parte de uma engrenagem maior. Do mesmo criador de O Hospedeiro e Expresso do Amanhã, ele é conhecido por histórias longas, mas que passam rápido e tendem a mostrar o pior e melhor lado da raça humana.

Em Okja isso não é diferente. Com uma bela fotografia e trilha sonora, se conhece a beleza do mundo e também a crueldade dele (diga-se de passagem que há um personagem chamado Mundo e ele não é nada legal). Assim, entendemos os lados da CEO mesquinha, mas também temos vontade de discutir com o grupo de ativistas, o FLA.

O longa é um mix de dualidades e o público, não apenas quem está consumindo o filme, mas também os consumidores fictícios ficam no meio dessa guerra de ideologias, ora postando em suas redes sociais, ora fazendo caretas de espanto quando convém. Ao fim, se percebe que o silêncio atribuído às massas se iguala a realidade.

Quando os bifes quentes e crocantes chegam as mesas de jantar, ninguém para e pensa sobre toda a trajetória dele até ali e Okja, mesmo de forma fictícia, se compromete a mostrar isso. Mas não deixa o outro lado de fora, sobre como não há nada para se fazer em relação a essa indústria. No fim do dia, se comem ou não a carne, o processo vai continuar existindo.

E claro que no meio disso não podia faltar o toque especial pelos quais séries e filmes coreanos são conhecidos. Nele, temos o bizarro e o estranho quando duas culturas se chocam, tendo até uma crítica a como coreanos nem cogitam em aprender inglês. Mas também surge a beleza e pieguice de diferentes pessoas lutando por uma mesma causa. E o rosto dessa luta não sendo apenas Okja, mas a pequena atriz que dá um show de atuação, Ahn Seo-Hyun.

Com um elenco de cair o queixo, uma ótima produção e uma crítica de arrepiar e se fazer pensar após os créditos subirem, Okja é uma das produções da Netflix essencias para se assisitir. Principalmente para se lembrar o porquê que tantas pessoas assinam o streaming.