PADRE: Ser tocado pelo demônio é como ser tocado pelas costas da mão de Deus. Te faz sentir sagrado de alguma forma, não é? Te faz único, com um pouco de glória. A glória do sofrimento, até. Agora vai minha pergunta: Você realmente quer ser normal? (Grand Guignol, 1×07, Season Finale).

Vanessa Ives (Eva Green) permaneceu até o fim tão confusa quanto o enredo de ”Penny Dreadful”. Nem os telespectadores ou a protagonista sabiam a resposta para a pergunta que o padre fez no início da jornada. Talvez apenas o criador tinha conhecimento da resposta, não apenas dela, mas também do tema: “Uma mulher em busca de Deus”.

Mas agora, “Penny Dreadful” chegou ao fim, seja com respostas satisfatórias ou não. E dentre tantas, a que mais deixa inquieto é como a história de Vanessa foi um mar de confusões. Desde o início, soubemos que a personagem era perturbada por demônios, que nos últimos anos tentou encontrar a si mesma. Por isso, o roteiro insistiu em inserir diversos enredos do passado da personagem.

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E tais, conseguiram transformar uma personagem terciária na vilã da segunda temporada, além de incluir sempre novas histórias, deixando um ano na vida da personagem conter acontecimentos que poderiam se desdobrar em cinco anos. Mas se a linha temporal dos personagens estava longe de agradar, o que realmente prendia a atenção eram os diálogos líricos, que se espelhavam em acontecimentos do presente e tentavam ligar tudo e todos.

Como é o caso dos discursos de Lily, personagem vivida por Billie Piper, nesta temporada. A antiga Brona, agora vivia pelos direitos das mulheres, para que se encontrassem em um mundo onde todos fossem iguais e então, aceitassem as “suas verdadeiras cores”. Muito pelo o que a personagem lutou foi espelhado na trama de Vanessa Ives, que estava pronta para confrontar o mal, mas ao mesmo tempo não fazia ideia em que estava se metendo.

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E quando Lily foi sequestrada por viver contra os parâmetros do homem, Ives aceitou seu destino de Mãe do Mal. Mas parece que ambas possuíam importância equivalente na série. Como foi dito antes, “Penny Dreadful” é sobre uma mulher em busca de Deus. Mesmo com tantos personagens interessantes com plots independentes, a série era sobre uma personagem, uma protagonista. E com o fim dela, se deu o fim da série.

Um fim controverso que está sendo chamado de “cancelamento”. Mas na verdade, foi finalizada. Depois de uma temporada com atuações incríveis, fotografia e cenas de ação de cair o queixo, “Penny Dreadful” terminou assustando os fãs. Não com os monstros que apresentou, mas com um final brusco que começou com uma frase simples sem ninguém perceber: “Eu aceito a mim mesma”.

Episode 307

Toda a terceira e última temporada falou sobre aceitação. Sobre Ethan entender seu papel no mundo, Vanessa aceitar que não teria como fugir do mal, Malcolm vendo os companheiros como familiares, John Clare percebendo que há muito mais “homem” que “monstro” dentro de si e Lily aceitando que a imortalidade não precisa ser feita de amarguras. Mesmo que todos tenham aceitado o destino que foi dado, muito pareceu ter sido jogado.

Como a escanção e falta de queda de Dorian, o personagem que nunca teve propósito definido, além do seu sex appeal, continuou o mesmo no final. Não apenas ele, mas também Frankstein, que precisou ser convidado por Malcolm para fazer parte das cenas finais, pois até o momento, estava enclausurado no laboratório procurando uma cura sem sentido.

O grande erro, que não é da temporada, mas da série em si, foi criar muito para contar pouco. Começou como uma série que unia personagens icônicos da literatura britânica. Uma produção sem protagonista definido, mas com monstros para fazer a história seguir. E terminou falando sobre uma mulher tentando alcançar o divino. Talvez, se tivesse se definido desta forma desde o início, teria se tornado uma das melhores séries da geração.

Não era uma façanha difícil, com um elenco que unia Eva Green, Billie Piper, Timothy Dalton e vários outros atores de peso. Mesmo que não tenha superado outras produções com seus vinte e sete episódios, “Penny Dreadful” terminou com o seu já conhecido gosto agridoce, com episódios memoráveis e o aproveitamento de atores esquecidos e/ou desconhecidos. Apenas não dá para saber se tudo isso foi mais doce do que salgado.