Faltando pouco mais de um mês para a estreia de “Onde Nascem os Fortes”, o autor George Moura conversou com o PIZZA DE ONTEM sobre a nova supersérie das 11 em uma tarde especial. Moura tinha acabado de receber a notícia de que “Redemoinho”, longa que tem o roteiro assinado por ele, venceu dois prêmios no FESTin, festival de cinema que ocorreu em Lisboa. Na próxima produção da Rede Globo o autor retoma a parceria que garantiu os troféus. “Redemoinho foi rodado logo depois de uma sequência de trabalhos que fizemos pra televisão e agora voltamos a trabalhar juntos em Onde nascem os fortes”, conta o autor se referindo aos diretores José Luiz Villamarim e Walter Carvalho.

Além da união no cinema, na TV os três trabalharam juntos nos sucessos “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e “O Rebu”. A nova supersérie também conta com outra parceria antiga: o autor Sergio Goldenberg. Juntos eles escreveram o programa “Por Toda a Minha Vida”, produção da TV Globo indicada ao Emmy.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

Agora o trabalho em conjunto ganha vida na cidade fictícia de Sertão e apresenta uma história guiada por amores impossíveis, ódio e perdão. No centro de “Onde Nascem Os Fortes” está Maria (Alice Wegmann). A personagem se apaixona pelo paleontólogo Hermano (Gabriel Leone), mas interrompe o romance quando o pai do rapaz (Alexandre Nero) se torna suspeito pelo sumiço de seu irmão gêmeo (Marco Pigossi). Em um território onde, às vezes, quem vence é o mais forte e não a lei, Maria se mostra uma mulher extremamente forte e começa uma busca incansável por respostas.

A força da personagem coincide com um momento em que questões como igualdade e feminismo são muito mais discutidas e que movimentos contra o assédio, por exemplo, finalmente ganham projeção. O autor avalia:

Eu desejo que a Maria toque o coração das mulheres e dos homens. Agora, de fato, eu acho que Onde Nascem os Fortes tem uma característica que talvez, de alguma maneira, esteja positivamente contaminada por esse momento que a gente está vivendo. Na supersérie, nós temos uma trinca de mulheres fortes e quando elas aparentemente se submetem na verdade estão dando a volta por cima. Elas têm uma grande determinação e o ambiente hostil do sertão não muda isso. Pelo contrário. As mulheres são determinantes para o desfecho”.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

Personagens como a Maria são resultado de uma intensa luta das mulheres em busca de direitos iguais e respeito e ‘Onde Nascem Os Fortes’ não marca a primeira protagonista forte de George Moura.

Eu já escrevi mulheres fortes. Por exemplo, a Angela Mahler, de O Rebu, era uma mulher forte. Não podemos esquecer que na obra original o personagem da Angela era feito por um homem e quando a gente foi fazer a adaptação resolvemos colocar uma mulher como protagonista. E olha que O Rebu foi exibido há quase quatro anos, então eu acho que está cada vez melhor e as mulheres fortes estão cada vez mais frequentes nas obras”, ele opina.

Outro personagem de “Onde Nascem os Fortes” que vai dar o que falar é Ramirinho (Jesuíta Barbosa). Com elementos necessários para promover uma ampla discussão sobre representatividade, e o desafio de ser aceito pelo que realmente é, o público vai acompanhar a dificuldade do personagem em esconder do pai, o juiz Ramiro (Fábio Assunção), que se apresenta na noite como Shakira do Sertão:

Eu acho que o personagem do Ramirinho vem de uma matriz que é muito patriarcal e isso não vem apenas da sociedade sertaneja e sim da sociedade brasileira em geral. No batismo a pessoa já carrega esse conceito. Se você batiza o filho homem com o seu próprio nome, você quer que ele carregue essa extensão. No caso de Onde Nascem os Fortes, o nome do personagem é Carlos Ramiro Junior. O pai, Ramiro, aplica as leis do lugar. Ele quer que o filho seja advogado, juiz ou empresário, mas o filho tem a força de contrapor o pai. Ele se veste como Shakira do Sertão e se apresenta a noite na boate Bodão Night Clube sem que ninguém saiba sua identidade. A força de Ramirinho é uma força velada, que é a mais forte”, comenta Moura.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

Outra boa ferramenta de desconstrução oferecida pela supersérie se apoia no deslocamento do eixo Rio-São Paulo para o Nordeste. Esse é um fator coincidente entre as últimas produções assinadas pela equipe, ou seja, “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e, agora, “Onde Nascem os Fortes”.

Pernambucano, George Moura consegue fugir do clichê e assinar um texto mais profundo. Gravada no Piauí e na Paraíba, a nova produção das 11 promete não limitar a “força” do título aos estereótipos.

Em ‘Os Sertões’, Euclides da Cunha escreve que ‘o sertanejo é, antes de tudo, um forte’ e divide o livro em três partes: a terra, o homem e a luta. Eu acredito que essa estrutura, de alguma maneira, está presente na supersérie. Não que seja uma adaptação de Os Sertões. Não tratamos de nada disso. Mas é uma história contemporânea, um drama, que destaca o sertanejo e suas paixões. A paixão pode provocar o amor, mas também o ódio e ‘Onde Nascem os Fortes’ mostra que diante do ódio a única forma de sair dele é o perdão”, explica o autor.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

Com todas as suas fichas e energias em “Onde Nascem Os Fortes”, Moura conta que, por enquanto, não está com nenhum trabalho encaminhado no cinema. Quando questionado sobre a diferença de liberdade criativa na TV e no Cinema, o autor pontua: “São experiências, de liberdade, diferentes. No cinema o convite vem, em geral, a partir de um diretor. E acho que aqui cabe uma frase que o Gabriel Garcia Márquez usou como título de seu livro sobre roteiro que é ‘Me alugo para sonhar’. Acho que é muito boa essa ideia”.

Diferente da televisão aberta, no cinema é possível se arriscar em determinados exercícios de narrativa que você sabe que o público ali, dentro de uma sala de cinema, mais concentrado, está mais disposto a embarcar. Então apesar de o ponto de partida vir a convite da direção, no cinema a verticalidade é mais realizada. Por outro lado, em geral, na televisão são os autores e/ou roteiristas que dão o pontapé inicial. Na televisão, sobretudo na aberta, há sempre o desejo de agradar o maior número de pessoas, ou seja, é uma comunicação mais horizontal. No caso de “Onde Nascem Os Fortes” o horário permite uma abertura maior e isso é ótimo, pois a nossa equipe gosta de aventuras”.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

Através de temas que se aproximam de diversas gerações e uma produção elaborada que se distancia das novelas, a nova supersérie das 11 deve agradar até mesmo os mais jovens. Quando questionado sobre qual seria o atrativo de “Onde Nascem os Fortes” para os que não têm afinidade com a televisão aberta e apostam no streaming o autor defende:

‘Onde Nascem os Fortes’ tem um pouco do melodrama e do folhetim na sua largada, mas o ponto em que a história chega permite uma aventura muito além. Isso proporciona, por exemplo, a possibilidade de escrever 53 capítulos, mas não ter 30/40 personagens. Na verdade, são oito/nove que conduzem a história e essa é uma característica que a diferencia da narrativa de novela”.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

É uma história com reviravoltas de trama, mas com reviravoltas também de personagens. Às vezes parece que o personagem é uma coisa, mas é outra. E isso pode ser uma aventura também muito legal para o telespectador, porque ele vai acompanhando e fazendo descobertas. E onde Nascem Os Fortes passa por esse processo. Além disso, a trama conta com um casal jovem durante toda a sua jornada e os jovens podem se identificar com Maria e Hermano”, disse.

O autor conta que ainda não terminou de escrever os 53 capítulos de ‘Onde Nascem Os Fortes’:

A minha parceria com o Villamarim conta com muita cumplicidade e afinidade artística. Eu participo das filmagens, mas, sobretudo, do processo de montagem, edição e sonorização. Então a gente ainda tem muito trabalho pela frente. Estou terminando de escrever os 53 capítulos para serem montados e isso envolve muita coisa. Acho que até julho estaremos 100% nessa jornada”.

Foto: TV Globo/Estevam Avelar

De George Moura e Sergio Goldenberg, escrita com a colaboração de Flavio Araujo, Mariana Mesquita e Claudia Jouvin, ‘Onde Nascem os Fortes’ tem direção artística de José Luiz Villamarim, direção geral de Luisa Lima e direção de Walter Carvalho e Isabella Teixeira.

Com previsão de estreia para o dia 23 de abril, a supersérie traz ainda nomes como Patrícia Pillar, Fábio Assunção, Irandhir Santos, Enrique Diaz, Carla Salle, Lee Taylor, Marcos de Andrade, Ravel Andrade, Camila Márdila, José Dumont e Nanego Lira no elenco.