Contos de fadas interligados, uma grande produção musical, Meryl Streep integrando o time de atores-cantores… A propaganda do novo longa da Disney chamou muita atenção. Mas antes de mais nada, caro leitor, é importante você entender um pouco sobre de onde esse longa veio. Então, vamos lá, porque a história de Caminhos da Floresta começou na Broadway. Esse lugar, que é onde os grandes musicais nascem, abraçou a ideia de Into the Woods, nome original da peça em inglês, e deixou o mundo todo conferir em 1987! Pra você ver quanto tempo demorou pra chegar nas telonas.
O mais interessante daquilo apresentado nos palcos foi a divisão entre o conhecido e o novo: até a metade do espetáculo, somos levados às histórias originais de João e o Pé de Feijão, Rapunzel, Cinderela e Chapeuzinho Vermelho, todas com pontas de conexão entre si. A primeira parte é alegre, engraçada, fala sobre seguir seus sonhos e, claro, todos já sabem o que acontece. Mas Into the Woods trata também do que se passou depois do “felizes para sempre” de cada conto. Quer dizer… Felizes pro resto da vida? Sério? Nunca mais tiveram nenhum perrengue? Um forninho pra levantar? Nada?
Explorar o que acontece com essas personagens icônicas depois dos “créditos”, digamos assim, traz outra dimensão aos ensinamentos que as histórias queriam passar: existe traição, morte, insegurança, decepção, e por aí vai. Into the Woods foi bem original em retratar o outro lado da moeda. Quando confirmaram que a Disney estaria a frente do projeto de cinema, foi meio decepcionante pra alguns, pelo motivo que todo mundo já sabe também: a Disney às vezes não tem pulso forte pra trazer ao público tramas com muita seriedade. O medo era que a essência do musical se perdesse e que o estúdio estivesse prestes a infantilizar todo o roteiro! A gente não pode culpar as pessoas desse pensamento – algumas animações antigas da empresa conseguem ser menos alegrinhas e mais sérias do que as de atualmente -, mas a questão é que, dessa vez, a intuição falou errado.
Caminhos da Floresta é fiel em grande parte à produção da Broadway, então temos todas as personagens daqueles contos indo em direção à floresta a fim de cumprirem objetivos: Cinderela quer ir ao baile, João quer vender sua vaca, Chapeuzinho tem que levar os doces até a casa da avó e Rapunzel deseja conhecer o mundo lá fora. Sem falar no Padeiro e sua esposa, o centro de toda narrativa na verdade, que acima de tudo querem ter um filho. É aí que a Bruxa (Meryl Streep) entra em cena e também os manda para entre as árvores, a fim de fazê-los quebrar o feitiço que afeta a fertilidade do casal.
Como dito, a adaptação é fiel, então, da metade pra trás, tem comédia, romance, lições de moral aprendidas e a realização dos sonhos! Dali pra frente, a coisa fica tensa. Em primeiro lugar, o filme conta com atuações exemplares, já indicadas a Globo de Ouro (Emily Blunt e Meryl) e Oscar (Meryl outra vez. Essa humilha!). A interação da música com o longa não funcionou como em Os Miseráveis, ou seja, Caminhos da Floresta optou pelo modo tradicional e gravou as músicas antes, ao invés de elas serem cantadas na hora, o que de jeito nenhum prejudica a emoção do momento. Já que esse é o elemento principal, vamos falar mais dele.
A trilha sonora é comovente e tem um instrumental bem tocante, ninguém vai se decepcionar, MAS, musical não é para todos! Tem gente que não encara Frozen, Mamma Mia nem qualquer outro por nada nesse mundo, então aqui vai o prévio aviso: as canções dificilmente dão uma pausa. Vá pra sessão confiante que será como num teatro: um espetáculo com muita cantoria, mas cantoria de qualidade. Por fim, a floresta: ela foi tão bem construída que nem dá pra ter aquele toque de “Ah, é um set. Olha ali que mal feito”. Parece que rodaram o filme só em ambiente externo, porque no geral é tudo envolvente e bem realista.
O filme, assim como a peça, passam a mensagem de “cuidado com o que deseja”. Inicialmente, a floresta é uma ponte daquilo que queremos para aquilo que vamos ter, por isso, eis aqui a metáfora. Aquele aglomerado de árvores onde todos vão parar representa a saída da zona de conforto das pessoas e a busca verdadeira no desconhecido por aquilo que a gente acha que vale a pena encontrar. E mais tarde, temos que aceitar as consequências: pode valer a pena alcançar o que se deseja, mas às vezes, não é como a gente espera…
Ponto positivo pra Disney que ousou, não tirou o foco principal do filme e se manteve fiel à criatividade e às surpresas de Into the Woods. A produção cinematográfica poderia ter se estendido um pouco mais, porque tem cenas que querem passar sentimento a quem assiste, mas é tão rápido que nem dá pra absorver tudo o que deveria. Enfim. Precisa falar dos efeitos especiais? O estúdio sempre capricha né, aqui não foi diferente.
Caminhos da Floresta toma uma frente oposta e trabalha na reinvenção dos tradicionais contos, e ainda não faz com que eles percam o valor anterior mas sim que ganhem mais significado. O corre-corre das personagens pra cumprir as tarefas, a vontade de resolver tudo e a música em si podem te deixar emocionado e arrepiado. A estreia acontece hoje, então compre o ingresso sossegado. Bom filme!
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