Uma deusa do clima. Um mestre do magnetismo. O líder de um poderoso grupo de super-humanos. O demônio de Hell’s Kitchen. Olhando para o legado desses personagens, o que há de menos importante é que Tempestade é negra; Magneto, judeu; Charles Xavier, um cadeirante e Demolidor, cego. Talvez pela importância deles hoje em dia, tenha se esquecido que a Marvel sempre apoiou as minorias. Indiretamente com o embate entre os ideais de Martin Luther King e Malcom X em X-Men ou com personagens que sofrem por serem diferentes.

Sendo assim, parece mais que um equívoco dizer que a inclusão dos novos personagens da “periferia” é apenas uma “tentativa de praticar o politicamente correto”. Esse sempre foi um dos pilares da editora, mesmo que 90% dos grandes símbolos sejam brancos e héteros. O que muda é que atualmente, ela faz isso sem se esconder e o público, por sua vez, tem espaço para dizer o que quer e pensa, mesmo que seja um grande e garrafal “É ruim” sem nunca ter tido contato com o produto.

x-men

riri-williams-iron-man-474x720Não é necessário dizer que empresas são feitas de tentativas, erradas ou certas e, quem sabe, a nova cara da mensal “Homem de Ferro”, Riri Williams, seja um grande erro, mas até que se prove o contrário é uma repaginada como qualquer outra, além de uma forma de inclusão social. Na capa, vemos uma forma de beleza há muito tempo ignorada. Negra, de cabelos enormes, soltos e encaracolados, algo que falta até em um dos ícones negros da Marvel, a Tempestade.

“Mas e isso importa por que…?” deve ser o que está perguntando. Por que, infelizmente, grande parte dos fãs de HQs imploram por novas histórias, enredos e personagens, mas é sempre um problema quando se trata de uma minoria tomando o manto de um personagem icônico, mesmo não tão adorado. Foi assim quando Lanterna Verde se assumiu gay, ou quando o título Ms. Marvel se tornou o de Kamala Khan, uma muçulmana. Até mesmo quando o martelo de Thor foi erguido por uma mulher.

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“Se quer colocar minorias, desenvolva os que tem”; “E é por isso que surge o racismo, não é assim que se combate”; “Daqui a pouco vai ter um bando de mulheres e gays no lugar dos heróis originais”; “O que está acontecendo?”.

Vamos do início e por partes. (1) Podemos contar nos dedos personagens negros e em sua grande maioria, já chegaram em um patamar de importância que não há mais espaço para crescer, não da forma como Riri tem potencial; (2) O racismo não surge de uma personagem tomando o posto de outro, mas quando alguém se acha no direito de reclamar por reclamar, seja inocentemente por que ama Tony Stark, ou simplesmente por ser racista; (3) Talvez com negros, mulheres e gays no posto de antigos heróis, o machismo que impera no mundo dos quadrinhos, pelo menos, diminua. E mesmo assim, etnia e sexualidade interfere em atos de heroísmo?; (4) O que está acontecendo é que a Marvel está pronta para discutir assuntos importantes, mas o público está olhando para o outro lado.

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A grande “casa das minorias” está abrindo as portas contra o preconceito, desta vez, de forma gritante. Não apenas com personagens escondidos na massa, muito menos com histórias maquiadas para se tornarem lutas entre vilões e heróis. Mas com personagens ganhando espaço, sendo bem desenvolvidos e trabalhados. E o melhor ainda, com sua própria revista.

Chega de ser o melhor amigo negro do principal! Ou de ser o amigo gay da garota bonitinha! E a indefesa que precisa ser salva pelo Super Homem? Coisa do passado! Esse é o momento de repensar todas as características machistas que estiveram escondidas nos últimos anos na cultura pop. Seja cinema, livros ou quadrinhos. Até por que são com heróis fictícios que surgem os reais. São com as representações que nasce a coragem para quebrar as barreiras do preconceito.

Se é para culpar e apontar dedos contra essa Nova Marvel, que seja caso a história for ruim, não por causa da personagem. Mas se os dedos estão se coçando para começar comentários maldosos, que tal discutirmos o que realmente incomoda? Riri? Que nome é esse?