Ela é uma das mulheres mais poderosas do seu mundo. Mas esse status lhe veio com muito custo. Sua infância nunca foi fácil, seu pai era uma pessoa conturbada que não ligava muito para ela ou seu irmão, mas apenas para sua grande causa. Ela cresceu e fez seu próprio caminho, amou e foi amada, até constituir uma família e infelizmente, vê-la ser arrancada de seus braços, para seu próprio bem. E isso a destruiu, dentro e fora. “Às vezes eu choro sem motivo. Às vezes eu durmo durante todo o dia”.

Seu nome é Wanda Maximoff, também conhecida como Feiticeira Escarlate. E sim, ela não existe em nosso mundo concreto e de átomos, mas o mal que a fez de deusa para uma simples humana desesperada, com medo e sozinha, é real. Depressão, melancolia, cova, fossa, desânimo, tristeza, chame-a como quiser, mas não sinta medo de falar sobre. E é para isso que serve o Setembro Amarelo, conscientizar e prevenir o suicídio. Fazer com que a depressão e tantos males deixem de ser um tabu.

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“Eu ainda não estou bem sobre o que aconteceu. Você entende isso? Eu tenho problemas… Na minha cabeça. Às vezes eu choro sem razão, às vezes eu durmo durante todo o dia”

E por isso, às vezes alguns heróis como a Wanda caem aos pés da depressão, mesmo que tudo e todos lhe digam em alto e bom som: “Você tem tudo, não tem direito de se sentir assim”. Histórias em quadrinhos sempre foram motivos de escárnio, até por que, como calças colãs e teias saindo de pulsos podem conscientizar alguém? A resposta é simples: Contando histórias reais o bastante para fazer com que o leitor veja a si mesmo, seu pai, irmão ou amigo nelas.

É assim que surgem esses subplots tão obscuros que chegam a ser ignorados, vistos apenas como mais uma característica passageira que não precisa ser sempre comentada. Carol Danvers, que em breve estará no cinema como a Capitã Marvel, já recorreu a bebida por achar que “não seria suficiente para retornar aos Vingadores”; Tony Stark já abusou de vários tipos de drogas, principalmente o álcool; Demolidor, Batman e o Morfeu de Sandman já sofreram de depressão.

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“Não é como se eu tivesse medo de me matar. Eu tenho medo de muitas coisas. Medo de barulhos a noite, de telefones, portas se fechando, de pessoas… De tudo”

A vida real não está tão longe disso. O rapaz sorridente e bonito, a menina cercada de amigas, o homem de sucessos. A verdade é que o garoto pode se sentir feio e diferente, quem sabe essa garota não se sinta sozinha e esse homem não está satisfeito com suas conquistas. São todos subplots que as pessoas ao redor delas ignoram, vistos “como mais uma característica passageira que não precisa ser sempre comentada”.

“A depressão exige que você tenha um guarda-roupa de máscaras para usar ao longo do dia. Por baixo da máscara tem um mundo desmoronando lentamente”. A pessoa não conta por que tem medo de não ser entendida e ninguém presta atenção, por que tem medo de escutar um pedido de socorro. Em The Wicked + The Divine #13, essa situação é muito bem exposta quando uma das deusas do Panteão, Tara, conta a sua história.

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“Sinto muito que o desapontei, mas…”

Depois de 22 páginas de uma garota sendo pisada apenas por ser bonita, de alguém grande ser menosprezado por querer ser quem é de verdade, de tweets zangados de haters, o leitor apenas quer dar a chance que ninguém foi capaz de dar para Tara. É lamentável que tal sentimento possa ocorrer com alguém que não existe, mas ao mesmo tempo, é incrível que algo criado da mente de outra pessoa possa fazer isso.

Até por que, se esse sentimento de altruísmo pode acontecer nessa relação “irreal”, por que não com quem está do lado? Com o indivíduo de carne e osso que está precisando de um abraço, de um elogio, do clichê, mas às vezes acolhedor: “Vai ficar tudo bem”. A ideia é que não apenas em setembro, mas em todos os meses do ano, ninguém se sinta sozinho. E sim, Bruce Wayne, Tony Stark, Carol Danvers, Jessica Jones, nenhum deles são reais, mas os roteiristas os fizeram superar seus demônios por que é possível que qualquer um os supere.