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Entrando na onda de refilmagens de filmes clássicos, Poltergeist – O Fenômeno acaba de ganhar sua “versão século 21”. Inspirado no clássico do terror de Tobe Hooper, Gil Kenan insere toda a tecnologia atual em seu filme e nos dá um banho de efeitos visuais, tudo isso combinado a uma bela fotografia. Mas acaba por aí. Para não ser injusto – afinal, essa é uma nova obra – apenas um dos parágrafos a seguir abordará alegorias ao original de 1982.

Poltergeist – O Fenômeno começa com os Bowen se mudando para uma nova casa. Ao perder o emprego, Eric é forçado a procurar uma residência mais barata e leva a família para um condomínio numa região impopular. A casa possui um sistema de som integrado em cada cômodo, inclusive no banheiro. Logo de início, já se percebe que essa é uma família comum, bem clichê – algo conveniente e, por vezes, essencial para construção de narrativas de terror. Eles se alojam na nova residência e as crianças mais novas, Maddison e Griffin, são os primeiros a notar algo estranho. Tudo o que acontece passa a impressão que pode ter uma explicação científica por trás, até que Maddison desaparece e os pais resolvem recorrer a ajuda de pesquisadores paranormais.

Até então os problemas são poucos e poderiam ser postos de lado, mas é justamente a partir daqui que o filme começa a desandar. Inicialmente, quem assiste pensa que mesmo o sobrenatural poderá ser explicado “racionalmente”, mas as cenas da árvore e do porão quebram essa expectativa. Sem problemas, basta mudar a percepção, mas nessa mesma cena há dois furos notáveis: Kendra, a filha mais velha, depois de escapar do porão é capaz de explicar aos pais o que aconteceu com Griffin na árvore sem ter visto nada; e nenhum vizinho ouve os gritos do garoto (isso causará controvérsias depois). O filme continua com Amy procurando ajuda de paranormais, que passam a investigar o que acontece e, então, outra derrapada: quando a assistente da Drª. Claire Powell vai explicar o que ocorre no ambiente, ela se faz tão didática que ganha o prêmio de “Pior Diálogo do Filme”. Sério, todos já sabem daquilo, “o outro lado” está no imaginário popular! A narrativa dá uma acelerada e Carrigan Burke, celebridade da TV famoso por seu programa de casos sobrenaturais, é chamado para ajudar a “limpar a casa”. O personagem é interessante, mas na correria acaba não sendo desenvolvido. Por fim, a família resolve fugir da casa assombrada, quase atropelando alguém na rua que, de repente, está cheia de vizinhos sendo socorridos pela polícia e pelos bombeiros (onde eles estavam quando Griffin berrava a plenos pulmões?).

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A ideia que fica é de que o filme acaba rápido, mas não é o que acontece – o filme tem pouco mais de 1h30min. O início é bem desenvolvido – chega a demorar para engatar –, o meio é cheio de furos, mas ainda consegue prosseguir, porém o final vem de supetão. Além disso, a imagem nunca fala por si só, com diálogos irritantemente explicativos em alguns momentos. Como já dito, efeitos belíssimos – embora não haja terceira dimensão na cópia em 3D, tornando-o totalmente dispensável – que além de deslumbrar torna tudo mais realista. O roteiro, no entanto, infelizmente não agrada por completo.

Embora esta seja uma obra diferente é inevitável algumas comparações. O filme de 1982 traz um início bem mais rápido e que mesmo sem uma introdução longa já se faz suficiente. O roteiro do original consegue amarrar tudo direitinho sem perder o ritmo e nem ser didático. A família tem uma relação com os vizinhos e estes aparecem em momentos de pânico (amém!). Ou seja: mesmo com efeitos melhores, o atual não supera o original – ainda que não seja esse o propósito – por não ter um roteiro tão bom quanto o outro. Isso não é um problema exclusivo desse filme, mas de uma leva de longas-metragens atuais, onde a história é posta de lado e se aposta em efeitos visuais e atores famosos para forçar garganta abaixo do espectador uma história mal desenvolvida. A crise de criatividade é tanta que até mesmo remakes, geralmente apostas de sucesso, várias vezes terminam em fracasso.

Se há algo que merece reconhecimento nesse remake é a exploração do “outro lado”, possibilitada pelo avanço dos efeitos visuais, já que o resgate de Maddison não fica apenas no imaginário (como no original), com uma cena satisfatória. As atuações não são espetaculares, mas são o suficiente, com ressalva para Kyle Catlett e Kennedi Clements, que mandaram muito bem interpretando Griffin e Maddison Bowen. Há uma cena pós-créditos que abre espaço para continuação – a desculpa para os furos de roteiro. E havendo sequência, ela terá muito o que explicar, mas sem didatismo.

Poltergeist – O Fenômeno estreou essa semana e é dirigido por Gil Kenan, o mesmo diretor da animação A Casa Monstro. O elenco é formado por Jane Adams (Inquietos), Jared Harris (Pompeia), Rosemarie DeWitt (Homens, Mulheres e Filhos), Sam Rockwell (Encalhados), Kyle Catlett (The Following), Saxon Sharbino (Doce Vingança) e Kennedi Clements (Um Herói de Brinquedo 2).