Leveza, representatividade e fácil identificação são grandes acertos de Com amor, Simon. Baseado no best-seller “Simon vs. a agenda Homo Sapiens”, da escritora estadunidense Becky Albertalli, o longa-metragem ocupa as telonas brasileiras, em cinemas selecionados, desde o dia 22 de março e hoje (5), estreia em circuito nacional. Nascido de uma parceria entre Temple Hill Entertainment (“A Culpa é das Estrelas”) e 20th Century Fox, o filme já ganhou status de pioneiro por ser o primeiro, de uma grande produtora de Hollywood, a apresentar um adolescente gay como protagonista.
Quem for ao cinema vai se encantar com a história de amor do protagonista Simon Spier (Nick Robinson, de “Jurassic World”). Aos 17 anos, ele mora em uma cidade pequena e convive muito bem com pais amorosos e a irmã caçula fã de culinária. Além da família, o adolescente está sempre com três grandes amigos: Leah (Katherine Langford, protagonista de “13 Reasons Why”), Nick (Jorge Lendeborg Jr.) e Abby (Alexandra Shipp). O que nenhum deles sabe é que Simon guarda um segredo: ele é gay. Ainda descobrindo como lidar com sua orientação sexual, o adolescente enxerga um mundo de possibilidades e identificações no dia em que alguém, que assina como “Blue”, publica um desabafo no blog do colégio sobre a dificuldade e a insegurança de sair do armário.
Trilhando seu caminho de descobertas, Simon encontra em Blue alguém em que ele pode finalmente ser transparente. Sem revelar suas identidades, os dois começam a trocar e-mails diariamente e todas as fases de um primeiro grande amor ganham vida. Idealizando quem poderia ser o autor dos e-mails, o protagonista tenta descobrir a identidade de Blue ao relacionar o que já sabe do rapaz com o que observa através das atitudes dos colegas. A busca se torna preocupante quando Martin, um colega chato e imaturo, encontra o e-mail de Simon aberto, em um computador do colégio, e começa a chantagear o garoto. Sem estar preparado para sair do armário e ainda mais preocupado com a possibilidade de Blue sumir do mapa (caso os e-mails fossem vazados), Simon concorda com a improvável missão de ajudar Martin a conquistar sua amiga Abby.
Com sensibilidade e leveza, Com amor, Simon não tem medo de trazer situações contemporâneas para o cenário mainstream. O filme acerta ao expor diferentes comportamentos sem reforçar estereótipos. Em um momento de destaque, outro personagem gay brinca com as roupas de Simon enquanto o longa mostra que, independente da diferença no guarda-roupa, ambos sofrem homofobia. Contudo, seria imprudente afirmar que a forma delicada de expor que ainda é muito difícil sair do armário enfraquece a transmissão da mensagem de que é importante se amar como realmente é. Na verdade, o filme é eficiente diante do desafio de fortalecer os que enfrentam tal dificuldade. Em um de seus momentos mais divertidos, ele brinca justamente com o fato de que se assumir é uma questão para homossexuais enquanto a sociedade não espera nada parecido dos heterossexuais.
Tudo isso resulta em um filme simples e, ao mesmo tempo, com muitas camadas e reflexões. A sensibilidade do roteiro e as boas atuações induzem ao envolvimento e garantem uma dualidade entre emoção e diversão. Se você não se identificar com Simon, provavelmente vai se identificar com um dos amigos dele ou, no pior dos casos, com algum dos personagens homofóbicos. A história poderia acontecer em qualquer lugar. A força do roteiro e da direção está em romper tabus e tratar todas as situações com normalidade, até porque um grande amor homossexual é tão ‘normal’ quanto um grande amor heterossexual.
Sem se omitir, o longa bate na tecla de que você deve ser você mesmo. Apesar de não esconder que ainda hoje se afirmar é uma questão desafiadora, o filme não deixa dúvidas de que o poder desse momento não deve ser tirado de quem realmente vai lidar com todas as consequências dele.
A prova da importância de toda essa representatividade veio já antes do lançamento do filme: durante as filmagens de Com amor, Simon, o irmão caçula de Nick Robinson (ator que interpreta Simon) se assumiu gay. Agora, depois do lançamento, a história tem potencial para tocar muitas outras pessoas e por isso a importância de um filme como esse, com larga distribuição mundial, é incalculável!
Provavelmente muitos que também estão se descobrindo vão se sentir mais compreendidos enquanto outros vão ser encorajados a iniciar diálogos. Sem contar com famílias que podem compreender melhor os filhos e até mesmo indivíduos que podem simplesmente passar por um processo de desconstrução.
Se a maioria dos roteiros de filmes teen parecem estagnados e clichês, Com amor, Simon veio para mostrar que, quando bem feito, o gênero ainda tem força para ser original e convencer as novas gerações– que lidam cada vez melhor com a diversidade.
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