É como um lar. Prédios tocando o céu e carros buzinando nas ruas. Um homem a prova de balas no Harlem e outro pulando como um circense russo no topo dos prédios. Uma mulher tão forte quanto é grossa e um rapaz com um punho reluzente. Defensores, a nova série da Netflix, se compromete a unir personagens já bem conhecidos pelo público e lhes dá um novo sentido para o significado de família e lar.
E isso acontece desde os primeiros minutos do piloto, em que Danny Randy se encontra no subsolo do Camboja, em uma caçada infrutífera atrás dos membros do Tentáculo. Depois disso, vemos cada um dos heróis retornando à sua casa, ou pelo menos ao mais próximo que eles têm dela. Jessica Jones vai do bar para seu apartamento/escritório, Matt Murdock do tribunal para o rosto conhecido de Karen e Luke Cage, da prisão para os braços de Claire.
Desde então, de forma bem sutil, os roteiristas vão deixando claro quem é importante para quem e o que cada um deseja “defender”. Com uma trama que se forma como um quebra-cabeça, os maiores e mais importantes mistérios e desenvolvimentos são os vindos das séries do Demolidor e Punho de Ferro. O que significa, o Tentáculo, Madame Gao e aquele vilão dispensável, o tal do Bakuto.
No meio disso tudo, ainda há espaço para Sigourney Weaver como Alexandra, mostrando que pode ser tão boa vilã quanto heroína. O mais interessante nessa salada de histórias e personagens é como a direção e fotografia se preocupam em manter cada ambiente com um estilo único.
Com transições rápidas mostrando a cidade de Nova York, o público pula do amarelo quente do Harlem para o escuro repleto de sombras de Hell’s Kitchen, da câmera torta de Jessica até a direção simples de Danny. Então tudo isso converge para simples takes de heróis lado a lado, prontos para proteger sua cidade.
Essa que é quase um organismo vivo ao redor deles. Cada um parece esconder lugares e pessoas que prezam dos demais integrantes da equipe. Assim, cada descoberta é uma peça que o público conecta, reconhecendo nomes, lembrando de certos eventos e algumas vezes, simpatizando com novas causas. Mas nem sempre.
O círculo de amizade de Danny, por exemplo, é um dos mais simples, mas o que mais parece cometer erros e discussões desnecessárias. Finn Jones, com sua atuação ainda bem estranha, vive choramingando sobre ser o único capaz de destruir o Tentáculo, enquanto Colleen Wing se questiona sobre sua utilidade na equipe. Isso sem falar da Claire Temple.
Interpretada por Rosario Dawson, a personagem com potencial, cheia de fogo e animação para lutar retornou para as dúvidas e receios sobre entrar no mundo dessas “pessoas com habilidades”. Mal entendiam que em um momento assim, elas deveriam ser como Karen, Foggy, Patty e Malcolm, apoio moral.
Mas é claro que ver Misty e Colleen lado a lado e as tramas e ganchos que se formam com um simples “oi” entre Karen e Patty foram momentos gratificantes para qualquer fã dos quadrinhos. Isso sem contar com Luke Cage deixando bem claro que não ficará dando ouvidos as lágrimas de Danny. “Antes desse punho, você já nasceu com privilégios”.
Esse choque de ideais é o que a primeira temporada de Punho de Ferro precisava. O rapaz agora parece entender um pouco mais o mundo ao seu redor, assim como Jessica começa a perceber que não pode viver sempre sozinha.
Assim, cada um retorna ao seu lar. Alguns de formas bem mais extremas do que outros. Mas essa separação, diferente do que parecia, não é algo ruim. Defensores possui apenas oito episódios, mas ironicamente, não deixa um “gostinho de quero mais” em relação a esse encontro. Ao invés disso, deixa uma curiosidade pertinente sobre o leque de possibilidades que se abre.
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