Ontem (15), durante a final ao vivo do The Voice americano, a rainha do rap fez uma apresentação triunfal, com o single que marca o seu retorno à música, “WTF (Where They From)“, em colaboração com Pharrell Williams (“Happy”). Muito antes de Nicki Minaj (“Anaconda”) e Iggy Azaelia (“Fancy”) fazerem sucesso, há quase 20 anos, Missy Elliott (“Work It”) já estourava nas rádios mundiais com seus singles e colaborações com artistas do momento, como participando da apresentação polêmica de Madonna (“Bitch I’m Madonna”) no MTV Video Music Awards 2003, ao lado de Britney Spears (“Work  Bitch”) e Christina Aguilera (“Say Something”).

Ela, que realizou o seu último lançamento oficial em 2005, “The Cookbook” – a rendendo seis indicações e dois prêmios no MTV VMA daquele ano, além de cinco indicações e uma estatueta do Grammy -, se juntou à Katy Perry em 2011 para criar o remix de “Last Friday Night“. A parceria ficou tão boa que Missy foi convidada pela cantora para participar de surpresa durante a sua apresentação no intervalo do Super Bowl XLIX 2015, deixando mais de 118,5 milhões de pessoas animadíssimas com a possibilidade do seu retorno.

“Eu não me lembro onde estava mas minha empresária ligou perguntando se eu queria participar do Super Bowl. Eu sentei olhando para o telefone tipo ‘ela disse Super Bowl?'”, contou Missy – em entrevista à I-D -, que não tinha nada de novo lançado para apresentar mas quis fazer mesmo assim. Quando foi informada que Katy queria fazer uma performance com ela, logo pensou no remix que haviam produzido mas, quando se falaram ao telefone, a cantora pop informou que era fã do trabalho da rapper e queria que ela cantasse três de suas músicas.

“Ela me permitiu cantar minhas músicas em seu set e me disse: ‘Se você tem algo novo, deve cantá-lo. Esse é o momento para a sua apresentação'”. Porém, Missy preferiu mostrar seus sucessos, já que não estava tão confiante nas gravações novas.

 

Seu retorno, todavia, já havia sido previsto por Pharrell, que a contactou antes mesmo do Super Bowl, quando se apresentaram no BET Awards 2014. Missy, que foi diagnosticada com a Doença de Graves em 2011, se questionava onde se encaixaria no cenário musical atual, com toda uma geração nova fazendo músicas que você sabe que não são iguais às de antigamente.

As pessoas ainda querem ouvir algo arriscado e criativo neste momento? Elas podem não aceitar a sua música. Então eu lutei contra isso e agradeço à Deus por ter colocado alguém como Pharrell que estava me incentivando. Para ele, naquela época, “Happy” estava em todos os lugares, ele não precisava compartilhar nada comigo, mas me disse que eu podia ligar para ele a qualquer momento que me sentisse assim, porque ele havia passado pela mesma coisa na vida dele e queria ter a certeza de que iria me levantar.

Após a performance no intervalo do jogo de futebol americano mais visto mundialmente, Pharrell ligou de novo para Missy, que já tinha retornado à sua vida normal. “Eu não estou tentando te pressionar, mas as pessoas sentem a sua falta. Você vê o que acontece lá fora? Você viu os gráficos? Eu quero gravar no estúdio com você!”, chamou o produtor.

Quem recusa Pharrell? Voamos para Los Angeles, entramos no estúdio e ele disse que tinha essa batida. Você sabe, Pharrell é muito zen, muito yoga, ele é um querido. Mas nessa hora ele estava certeiro, como “Yo, eu tenho essa gravação irada para você. Eu já escrevi meu rap, preciso da sua parte agora”. Então ele tocou e eu fiquei impressionada. Ele disse “Você sabe que vai arrasar”.

Missy preferiu levar a música para casa e certificar-se que daria o seu melhor. Pharrell a incentivava dizendo que bastava ela lembrar de quem era, sempre divertida e animada, fazendo as pessoas quererem dançar. “Olhe no espelho para que você possa saber quem você é. Está na hora. É a sua vez!”. O produtor sabia o que estava falando, tendo em vista que a rapper já havia feito um sucesso absurdo no passado e o momento que estamos vivendo agora no cenário musical prevalece bastante o hip-hop e os gêneros vindos da periferia.

Elliott não tem costumes de tirar suas roupas, chamar atenção e colocar seu nome em marcas (além da Adidas, que representa bem o street style da rapper), mas faz com que diversos singles façam sucesso (seja cantando, escrevendo ou produzindo para Ciara, Mariah e Lil Kim, por exemplo). Mesmo assim, assume que precisava de uma pausa após trabalhar com tantos artistas – tentando sempre manter um som diferente para os mesmos -, e estava nervosíssima quando liberou o seu novo single:

Eu me senti como uma criança à espera do Papai Noel para descer a chaminé. Eu só esperava que todo mundo gostasse do vídeo. Agradeço à Deus, Pharrell, Dave Meyers e Hi-Hat. Sem eles, não teria sido possível!

Logo depois da gravação do novo single, tinham a certeza de que deveriam gravar um clipe. “Quando eu lançava uma música, nós apenas a liberávamos, nunca com um videoclipe. Dessa vez, a pressão foi realmente maior porque eu sabia que tinha gravado um vídeo, então a preocupação não era apenas se iam gostar da música. Eu sabia que as pessoas me conhecem pelos meus clipes, por isso a expectativa das que cresceram com a minha música era grande.”, contou Missy. O resultado não poderia ter sido melhor e você pode assisti-lo abaixo:

A ideia dos fantoches eu tinha visto alguém fazer na rua. Eu fiquei com essa ideia por cinco anos, porque eu não tinha uma gravação que combinasse com ela. Então eu mostrei a Pharrell o vídeo que eu tinha e ele disse “Você sabe que você precisa fazer um clipe para isso!”.

O clipe, que iniciou a sua gravação em Março e só foi divulgado em novembro, foi tão detalhado que só os bonecos demoraram cerca de dois a três meses para serem feitos, com a colaboração de profissionais que trabalharam em “Star Trek”. Para dar o melhor de si, a rapper literalmente sangrou por sua arte, já que todos queriam um outfit icônico e ela vestiu um feito de vidro.

Durante a entrevista, Missy Elliott não poupou esforços para falar bem sobre personalidades da indústria musical atual, como Adele, Rihanna, Beyoncé, Kayne West, se identificando com o último. “O que eu amo sobre Kanye e que ele também não se encaixa no molde. Ele faz o que sente. As pessoas podem olhar para ele como ‘Kanye fazendo isso de novo’, mas eu respeito o fato e posso dizer que quando ele cria a sua música não é algo como ‘estou fazendo o que está em alta agora’. Foi isso o que senti no estúdio. Então eu posso apreciar artistas como ele.”.

Agora, basta esperar o novo álbum de Missy e a volta do rap de raiz street style, oriundo das periferias, nas rádios e festas de todo o mundo.